You are using an outdated browser. For a faster, safer browsing experience, upgrade for free today.

Notícias

Vírus abrem novas perspectivas no combate a câncer agressivo

Vírus abrem novas perspectivas no combate a câncer agressivo

Fonte: O Globo
Notícia publicada em: 04/01/2018
Autor: CLARISSA PAINS

Vírus são conhecidos — e temidos — como causa de uma série de doenças, mas estudos recentes mostram que eles podem ser grandes aliados no tratamento do câncer. Somente ontem, duas pesquisas relacionadas ao tema foram publicadas na revista “Science Translational Medicine”. Uma delas mostra como pesquisadores observaram que um vírus injetado no sangue foi capaz de chegar até células tumorais do cérebro. Uma vez infectadas, essas células se tornaram “visíveis” para o sistema imunológico, que passou a combatê-las. O segundo estudo relata uma atuação muito parecida, mas de outro tipo de vírus, na destruição de células de câncer de mama. Os resultados abrem caminho para novas imunoterapias contra o câncer à base de vírus.

Nove pacientes participaram do estudo sobre câncer cerebral. Em alguns casos, tratavase de um glioma, tumor de rápido crescimento e difícil de combater; em outros, o câncer havia se espalhado de outros órgãos para o cérebro. Todos eles tiveram o tumor removido cirurgicamente, mas, dias antes de serem operados, receberam uma dose na veia de um vírus chamado reovírus, muito encontrado no sistema respiratório e que, em geral, não faz mal.

Depois que os tumores foram removidos, os cientistas os analisaram e descobriram vestígios de que o vírus havia atingido o órgão, ultrapassando a barreira hematoencefálica, que separa sangue e cérebro. Os pesquisadores também constataram que o vírus foi capaz de “ativar” o sistema de defesa do corpo para atacar o câncer.

Como o reovírus foi programado em laboratório para se replicar apenas dentro de células cancerosas e deixar células saudáveis intactas, os pacientes que receberam o tratamento relataram apenas efeitos colaterais semelhantes à gripe.

O autor principal, Alan Melcher, explica por que vírus são uma das novas apostas para ajudar o corpo a detectar câncer:

— Nosso sistema imunológico não é muito bom em “ver” os cânceres, em parte porque as células cancerosas se parecem com as saudáveis. No entanto, é excelente para detectar vírus.

A pesquisa foi realizada pela Universidade de Leeds e pelo Instituto de Pesquisa em Câncer, ambos na Inglaterra. Melcher acredita que o tratamento com reovírus pode ser usado junto com outras terapias contra o câncer, para torná-las mais potentes. Os pesquisadores iniciaram estudos clínicos para precisar o quão eficaz a imunoterapia viral pode ser para estender a vida de pacientes com tumores cerebrais agressivos, que têm opções de tratamento muito limitadas hoje.

Outro vírus, chamado maraba, mostrou potencial para combater o câncer de mama triplo negativo, o tipo mais agressivo e difícil de tratar. Um estudo de pesquisadores do Hospital e da Universidade de Ottawa, no Canadá, testou em camundongos a aplicação desse vírus conhecido como oncolítico (“onco” significa câncer, e “lítico”, destruir), que é modificado por engenharia genética para eliminar tumores.

Os resultados da pesquisa sugerem que uma combinação de duas imunoterapias — vírus oncolíticos e inibidores de pontos de controle — poderia ter muito mais sucesso no tratamento desse tipo de câncer. Com essa associação, foi possível curar de 60% a 90% dos camundongos, em comparação com zero para o uso dos inibidores sozinhos. Com apenas o vírus, a taxa foi de 20% a 30%.

— Quando você infecta uma célula cancerosa com um vírus, é como se levantasse uma grande bandeira vermelha, ajudando o sistema imunológico a reconhecer o câncer — compara John Bell, cientista sênior do Hospital de Ottawa. — Mas, para alguns tipos de câncer, isso não é suficiente. Descobrimos que, quando se adiciona um inibidor de ponto de controle após adicionar o vírus, isso libera muitos alarmes ao mesmo tempo e o sistema imunológico envia um “exército” contra o câncer.

Para Daniel Tabak, membro titular da Academia Nacional de Medicina e diretor do Centro de Tratamento Oncológico (Centron), no Rio, esses experimentos com vírus abrem um novo caminho para a imunoterapia:

— Existem vírus que têm “preferência” por infectar células do sistema nervoso, outros por células da pele, por exemplo. Por isso cada câncer teria que ser tratado com um tipo de vírus diferente. São necessários estudos de longo prazo para definir qual é o mais adequado para cada doença. Mas, definitivamente, imunoterapias virais trazem uma nova perspectiva. Estamos no caminho em que, num futuro próximo, fazer um transplante para curar leucemia, por exemplo, será impensável porque conseguiremos tratar os pacientes apenas com seu próprio sistema imunológico.

Compartilhar:

Deixe seu Comentário

Atenção: Os comentários abaixo são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores e não representam, necessariamente, a opinião da AMUCC