Proporcionalmente, SC tem maior índice de câncer de pele do Brasil
Fonte: NSC DC
Notícia publicada em: 01/01/2018
Autor: Cláudia Morriesen e Lucas Paraizo
O câncer de incidência mais elevada no mundo está no maior órgão do corpo humano: na pele. Mesmo assim, figura entre os mais esquecidos quando se trata de cuidados no dia a dia. No verão, quando a incidência dos raios solares aumenta e as pessoas ficam ainda mais expostas a eles, a pele precisa de observação extra – o que não significa que, em outros períodos do ano, ela possa ficar desprotegida. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) registra, a cada ano, 180 mil novos casos de câncer de pele no Brasil, o que corresponde a 33% de todos os diagnósticos desta doença.
A maior taxa de incidência, proporcionalmente, é em Santa Catarina: na última pesquisa feita pelo Inca, a estimativa era de 9.890 pessoas diagnosticadas com melanoma e não melanoma em 2016 no Estado – cerca de 160 a cada 100 mil habitantes, enquanto o segundo estado com maior incidência, o Rio Grande do Sul, tem cerca de 120 a cada 100 mil habitantes. São Paulo e Paraná vêm em seguida na lista.
Em Santa Catarina, o maior número de mortes pela doença estão em Joinville, Florianópolis e Blumenau, respectivamente: das 1.190 mortes que ocorreram por causa do câncer de pele em Santa Catarina entre 2010 e 2015, 110 foram em Joinville, 87 em Florianópolis e 66 em Blumenau.
– A incidência é muito maior em Santa Catarina porque temos uma soma de fatores de risco aqui: a pele mais clara de grande parte da população, fruto da descendência europeia no Sul; a exposição maior ao sol por causa do tamanho e da valorização do litoral; e a área mais fina da camada de ozônio na nossa região, o que permite a entrada com maior intensidade dos raios solares – explica a oncologista Viviane Dallagasperina.
Entre a população branca, a frequência do melanoma é mais de 20 vezes maior do que entre a população com pele negra e de descendência hispânica, já que a baixa produção do pigmento de melanina resulta na menor capacidade de defesa dos raios ultravioleta do sol. Na última pesquisa do IBGE, em 2010, 83,97% dos catarinenses declararam ter pele branca.
Além disso, o Cinturão de Van Allen, aglomerados de partículas em formato de aneis que protegem o planeta de raios radioativos, apresenta uma alteração sobre a América do Sul, fazendo com que a radiação consiga penetrar com mais intensidade na região. Chamada de Anomalia do Atlântico Sul, esta falha é ainda mais intensa sobre os estados do Sul do Brasil, o que, para alguns especialistas, tem relação com o alto índice de câncer de pele na região.
Questão cultural atrapalha a prevenção
Há também uma questão cultural que atinge todo o país. Se para a geração que hoje tem mais de 60 anos não havia informações nem campanhas de prevenção sobre os riscos de ficar exposto aos raios solares, e era comum trabalhar na área rural, atualmente a população mais jovem, mesmo sabendo as consequências, não toma medidas de prevenção e pegam Sol por questões estéticas. No ano passado, a Sociedade Brasileira de Dermatologia divulgou um relatório que apontava que pelo menos 6 milhões de brasileiros adultos assumiram que não se protegiam de nenhuma forma ao irem à praia, à piscina e a banhos de rio.
– As pessoas precisam criar o hábito de utilizar o protetor solar, e não apenas nas atividades de lazer, mas no dia a dia, mesmo naqueles que estão nublados. O ideal, também, era ter pelo menos uma consulta com dermatologista por ano. O câncer de pele, como todos os tipos de câncer, tem muito mais chances de cura se houver um diagnóstico precoce – analisa Viviane.
Apesar do número alto de incidência, a mortalidade por causa do câncer de pele é baixa. A maioria dos casos são do tipo não melanoma (carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular) e tem índice de cura de até 90%, principalmente se detectado nos estágios iniciais. Já o melanoma cutâneo, menos frequente, é mais agressivo, se espalha mais rápido e, por isso, é tido como o responsável pela maioria dos óbitos registrados de câncer de pele.
Foto: Patrick Rodrigues / NSC Comunicação
Herança na pele, exames e respostas rápidas em Blumenau
Em terceiro lugar no ranking do câncer de pele em Santa Catarina, Blumenau carrega um histórico que já foi alvo de diversos estudos sobre a incidência da doença em moradores da cidade. Somente até outubro deste ano o número de atendimentos ambulatoriais para pacientes com a doença na rede pública do município ultrapassou de 4 mil, um crescimento superior a 20% em relação aos 3.222 procedimentos em 2016.
As origens alemãs que trouxeram a pele clara de parte dos moradores e um alto índice de raios solares – fruto de algo que especialistas apontam como uma fraqueza na camada de ozônio sobre o Vale do Itajaí – elevam o número de tumores na pele dos blumenauenses. Fatores que estão entre os apontados pelos médicos ao morador Sérgio Augusto Gomes de Borba, que já viu o diagnóstico de câncer duas vezes.
Aos 60 anos, Borba é exemplo da importância dos exames e da resposta rápida contra os tumores. Dez anos atrás uma mancha na perna chamou a atenção e o fez procurar um dermatologista que confirmou o tumor. Como estava em estágio inicial, apenas uma cauterização resolveu o problema.
Cerca de dois anos atrás a situação se repetiu: uma verruga que não sarava no braço o fez voltar ao médico, que retirou o tumor em uma cirurgia e comprovou na biópsia que se tratava de um novo câncer. Com o diagnóstico, uma segunda cirurgia foi feita para garantir que nenhum resquício permanecesse na pele.
Com os casos vivenciados, o analista de sistemas aprendeu também a se prevenir e passar isso adiante aos filhos. Se antes o hábito de usar filtro solar era menos frequente e somente diante do sol forte, hoje o item é indispensável até na sombra da praia.
Mudança de comportamento em Joinville
Descobrir, aos 65 anos, que tinha um câncer considerado maligno, foi um susto para Maria Bandoch. Há um ano e meio ela percebeu que um sinal nas costas estava, estranhamente, coçando muito. Em pouco tempo, a pinta tinha crescido e ficado “do tamanho de uma moeda”. Moradora de Joinville, ela foi à policlínica no bairro Boa Vista e, lá, ouviu que seria encaminhada com urgência para biópsia.
– O câncer já estava enraizado. Precisaram abrir de fora a fora nas costas e tinha o risco de ter se espalhado – recorda Maria.
Além de cirurgia, ela precisou passar por um mês de sessões de quimioterapia. Na época, deixou a atividade de costureira de lado porque não podia fazer movimentos que afetassem o local da cirurgia. Agora, ela faz acompanhamento médico a cada quatro meses e comemora o fato de não terem sido encontrados outros tumores.
A principal mudança, no entanto, foi de comportamento. Até os 20 anos, Maria viveu em um sítio em Indaial e ajudava a família na lavoura. Desde a infância ela se expôs aos raios solares sem nunca pensar em proteção para a pele.
– Eu pegava muito sol e ninguém falava sobre cuidar. Agora, sempre saio com a sombrinha e de protetor solar – conta.
Conheça os sinais e os sintomas:
O câncer de pele pode se assemelhar a pintas, eczemas ou outras lesões benignas. Conhecer bem a pele e saber em quais regiões existem pintas faz toda a diferença na hora de detectar. Somente um exame clínico feito por um médico especializado ou uma biópsia podem diagnosticar o câncer da pele, mas é importante estar atento aos sintomas:
Uma lesão na pele de aparência elevada e brilhante, translúcida, avermelhada, castanha, rósea ou multicolorida, com crosta central e que sangra facilmente;
Uma pinta preta ou castanha que muda de cor, textura, torna-se irregular nas bordas e cresce de tamanho;
Uma mancha ou ferida que não cicatriza, que continua a crescer apresentando coceira, crostas, erosões ou sangramento.