Flora intestinal contra o câncer
Cientistas têm mostrado o quanto a microbiota humana é importante para o funcionamento do corpo e como ela pode influenciar no surgimento de enfermidades. Uma equipe norte-americana resolveu investigar se essas bactérias também são capazes de fazer a diferença no tratamento de cânceres. Eles analisaram a flora intestinal de pacientes submetidos a imunoterapia para tratar o melanoma e identificaram uma variedade maior de bactérias nos voluntários que responderam melhor ao tratamento. A descoberta, segundo os estudiosos, poderá abrir uma nova via de aprimoramento terapêutico contra tumores.
Os autores do estudo, publicado na revista internacional Neoploasia, tiveram como base investigações com ratos que mostraram a influência das bactérias no tratamento focado no uso do sistema imunológico do próprio paciente. “Dois trabalhos publicados em 2015 mostraram que ratos sem microbiota intestinal e aqueles tratados com antibióticos não respondem à imunoterapia”, explica ao Correio Andrew Koh, professor-associado de pediatria e microbiologia no Centro de Tratamento e Compreensão do Câncer Harrison C. Simmons, nos Estados Unidos.
No novo estudo, os pesquisadores analisaram a microbiota de 39 pacientes com melanoma, tipo de cancro de pele com incidência potencializada nos últimos 40 anos. Todos os voluntários foram tratados com imunoterapia, que tem aumentado drasticamente as perspectivas para pacientes com melanoma metastático nos últimos seis anos, de acordo com os autores. “Esses estudos anteriores foram feitos em ratos. Queríamos ver se seria possível identificar bactérias específicas mais abundantes em pacientes adultos com câncer e que receberam a imunoterapia apresentando uma boa resposta, ou seja, a diminuição no tamanho do tumor”, detalha Andrew Koh.
Observou-se que os pacientes que responderam bem à imunoterapia tinham um número maior de três bactérias na flora intestinal: Bacteroides thetaiotaomicron, Faecalibacterium prausnitzii e Holdemania filiformis. “Nós nos perguntamos: é algo que as bactérias estão fazendo? Nós examinamos os metabolitos e encontramos uma maior correlação entre o ácido anacárdico, presente em castanha de caju e mangas, e as bactérias benéficas”, conta Koh.
Apesar da constatação, os pesquisadores ressaltam que a investigação precisa ser aprofundada para que se possa confirmar que a presença do ácido está relacionada às espécies de bactérias encontradas na microbiota dos pacientes analisados. “Nossas descobertas são associações, mas não provam causalidade. Agora, estamos fazendo mais experimentos em camundongos e, dependendo dos resultados, se forem encorajadores, realizaremos um ensaio clínico para avaliar a microbiota do intestino a partir do uso de probióticos, a fim de ver se eles apresentam melhoras”, adianta.
Uso combinado
A equipe acredita que o coquetel probiótico poderia ser um aliado da imunoterapia, aumentando as chances de respostas positivas. Raphael Brandão, oncologista do Centro Paulista de Oncologia, avalia que, apesar de abordar uma estratégia bastante explorada atualmente, o experimento é preliminar. “Precisamos de mais estudos, porque os dados vistos não são suficientes para comprovar essa relação, é algo ainda muito inicial. Seria interessante analisar um número maior de pacientes e até reavaliar os que já passaram por essa etapa. Analisar o efeito de um coquetel probiótico com a imunoterapia também seria interessante”, sugere.
Segundo o médico, a microbiota é apontada como um agente influenciador da imunoterapia, porque acredita-se que bactérias presentes nela capacitam as células dendríticas a capturar agentes agressores. “Elas seriam um potencial auxiliar do sistema imune. Quando realizei pesquisas nos Estados Unidos, eu e meus colegas vimos o caso de um paciente com câncer no rim que, ao receber antibióticos antes da imunoterapia, não obteve resultados positivos porque, quando você usa antibióticos, essa diversidade de bactérias diminui”, conta.
Os autores do estudo também ressaltam a importância que a flora intestinal tem ganhado na busca pelo bem-estar humano. “Os estudos estão muito quentes. Investigações científicas foram publicadas mostrando a importância da microbiota com relação ao metabolismo, ligado à obesidade; às doenças autoimunes, como as intestinais inflamatórias; às infecções e até às doenças neurológicas, como Parkinson, autismo e Alzheimer. Novamente, o desafio é descobrir se e como esses erros estão mudando a fisiologia do paciente”, diz Koh.
Metastático
É o tipo de tumor de pele mais perigoso, pois tem um alto risco de metástase, enviando células tumorais para outros órgãos do corpo. Esse câncer se origina nos melanócitos, células que produzem o pigmento que colore a pele. Pode surgir em áreas não expostas ao Sol, mas é mais comum naquelas que recebem luz solar com frequência. O tratamento precoce apresenta os melhores resultados, quando se retiram cirurgicamente as células doentes da pele.
Potencial terapêutico
Trata-se de um composto químico encontrado na castanha de caju, mas também presente no fruto do caju e no óleo da casca-de-noz do caju. É utilizado no tratamento de abcessos dentários e também auxilia no combate à acne e à tuberculose. Como alvo de pesquisas na área médica, já mostrou resultados positivos no tratamento de Parkinson.
Fonte: Correio Braziliense
Notícia publicada em: 18/10/2017
Autor: Indefinido
Deixe seu Comentário
Atenção: Os comentários abaixo são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores e não representam, necessariamente, a opinião da AMUCC