Embalagens de fast-food fazem mal à saúde, diz estudo
Um estudo do Instituto Silent Spring (EUA) indica mais um motivo para que as pessoas mantenham distância dos lanches industrializados. As embalagens à prova de gordura usadas em alimentos como pizzas e hambúrgueres podem conter substâncias químicas fluoradas potencialmente prejudiciais à saúde.
Os levantamento analisou mais de 400 embalagens de papel e cartolina de 27 cadeias de fast- food americanas. Os compostos usados em sua fabricação, e que entram em contato com o alimento, podem modificar o DNA e os processos de replicação celular. Os consumidores de fast-food estão sujeitos a complicações como puberdade precoce, distúrbios de fertilidade, doenças da tireoide, obesidade, câncer e diabetes.
— Essas substâncias químicas têm sido associadas a inúmeros problemas de saúde, por isso é preocupante que as pessoas estejam potencialmente expostas a elas em alimentos — alerta a química Laurel Schnaider, autora principal do estudo, publicado esta semana na revista “Environmental Science & Technology Letters”.
Crianças são mais vulneráveis
Professora de pós-graduação de Endocrinologia da PUC-Rio, Isabela Bussade revela que os compostos fluorados podem provocar efeitos mais graves nas crianças — justamente o principal público-alvo da propaganda dos fast-foods.
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— São duas condições desfavoráveis: elas são mais suscetíveis ao consumo e ainda têm o sistema imunológico em formação — adverte. — As crianças não chegaram ao seu equilíbrio hormonal e metabólico. Esta é a faixa etária em que mais aumenta a incidência de sobrepeso e obesidade, que está diretamente associada ao consumo de alimentos industrializados.
A nutricionista Milene Tiellet, especialista em segurança alimentar, avalia que o estudo mostra uma maneira danosa de preservação de alimentos encontrada pela indústria, cujas consequências ainda não são totalmente conhecidas.
— A exposição dos alimentos a substâncias tóxicas é mais uma tática prejudicial adotada pelos grandes fabricantes para otimizar sua produção — condena Milene, que é diretora da Alimentar Consultoria. — É, de certa forma, o mesmo que ocorre com a gordura trans, uma manobra para criar uma comida mais crocante. Então, o consumidor enfrenta riscos tanto na embalagem quanto na ingestão do alimento.
Em seu estudo, Laurel aplicou uma nova técnica, a emissão de raios gama, para identificar os compostos fluorados. Quase metade das embalagens de papelão continha flúor. Os embrulhos usados para sobremesas e pão registraram maior quantidade de substâncias tóxicas.
Os compostos fluorados encontrados na embalagem “sobrevivem” ao momento em que ela é jogada fora. A equipe de Laurel encontrou estas substâncias em aterros sanitários e ressalta que elas podem migrar para águas subterrâneas, com impacto potencial ao abastecimento de água potável.
Fabricação fiscalizada
Um dos compostos mais prejudiciais à saúde usado em embalagens, conhecido como C8, foi retirado do mercado americano após um exame conduzido pela Administração Federal de Alimentos e Medicamentos, a FDA.
— Ainda assim, muitos compostos adotados para sua substituição também não têm se mostrado seguros para a saúde humana — lamenta Arlene Brum, fundadora do Instituto Green Science Policy. — É por isso que precisamos reduzir o uso de todas as classes de compostos altamente fluorados. Existem alternativas.
De acordo com Isabela, o papel e a cartolina que embalam os lanches podem continuar no mercado, desde que sua fabricação seja rigorosamente fiscalizada:
— Podemos investir em embalagens sem compostos tóxicos. Provavelmente este processo comprometerá o efeito estético, fazendo com que o lanche pareça menos atraente, e a durabilidade do alimento também pode ser reduzida — pondera. — Mas há um grande efeito positivo: não teremos uma comida contaminada.
Fonte: O Globo (2/2/2017)
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