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Coronavírus prejudica tratamento contra o câncer em SC; cirurgias caíram 48%

Coronavírus prejudica tratamento contra o câncer em SC; cirurgias caíram 48%

Médico oncologista alerta que evitar atendimento por receio da covid-19 pode significar diagnósticos mais tardios e com menores chances de cura.

Por Jean Laurindo

Fonte: nsctotal.com.br

Não é apenas o novo coronavírus que representa ameaça à saúde durante a pandemia de covid-19. Embora o vírus exija cuidados para evitar complicações e disseminação da doença, os riscos vão além deste quadro. Um dos reflexos também ocorre no diagnóstico e no tratamento de casos de câncer.

No Brasil, um estudo da Sociedade Brasileira de Patologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica mostra que nos primeiros dois meses de pandemia – entre 11 de março e 11 de maio –, sete em cada 10 cirurgias de câncer deixaram de ser feitas.

Em Santa Catarina, a Secretaria de Estado da Saúde não respondeu à reportagem se houve cancelamento de exames e cirurgias oncológicas e qual o impacto da pandemia de covid-19 nos casos de câncer no Estado.

No Centro de Pesquisas Oncológicas (Cepon), de Florianópolis, a administração informou que houve queda nas consultas, cirurgias e internações, mas manutenção no número de tratamentos.

O número de cirurgias oncológicas caiu 48% na comparação entre março e maio de 2020, período da pandemia de corovonavírus, contra março e maio de 2019. Nos últimos três meses, o Cepon fez 463 cirurgias de câncer, quase metade das 898 que havia feito nesses mesmos meses de 2019.

Segundo o Cepon, essa queda nas cirurgias se deve ao contingenciamento de leitos de UTI com vistas a receber pacientes de covid-19.

Cirurgias oncológicas durante a pandemia de covid-19

Número de procedimentos feitos pelo Cepon, em Florianópolis

No caso dos atendimentos ambulatoriais, as consultas com oncologistas que antecedem a indicação de cirurgia ou outros tratamentos, a redução foi praticamente igual, de 47%. Foram 16,2 mil consultas feitas de março a maio deste ano, contra 30,9 mil registradas nesses três meses de 2019.

No caso das consultas, o Cepon atribui a redução à necessidade de ter menos pessoas em circulação na unidade.

Quimioterapia e radioterapia continuaram estáveis

A notícia boa fica por conta dos tratamentos. O Cepon conseguiu manter estável o número de quimioterapias e radioterapias, mesmo durante o período de pandemia de covid-19. No caso das quimios, o Cepon fez 4,3 mil procedimentos de março a maio deste ano, apenas 5% menos do que o registrado nesses mesmos meses de 2019.

No caso da radioterapia, foram 416 procedimentos feitos em março e abril, praticamente o mesmo número desse período em 2019, que foi de 430 radioterapias. Os números de maio ainda não foram contabilizados pela unidade.

Quimioterapia e radioterapia durante a pandemia de covid-19

Número de procedimentos feitos pelo Cepon, em Florianópolis

AMUCC confirma impacto em exames

A presidente da Associação Amor e União Contra o Câncer (Amucc), Leoni Margarida Simm, afirma que a percepção na entidade é dividida: alguns pacientes relataram que conseguiram fazer a cirurgia e seguem em tratamento no Cepon, enquanto outros deixaram de ir por medo de pegar o coronavírus. A principal preocupação da presidente é com o fluxo de exames para apontar os diagnósticos, que já era uma dificuldade na rede pública antes da pandemia.

A vice-presidente da Amucc, Simone Souza Lopes, afirma que houve cancelamento de cirurgias nas primeiras semanas da pandemia e que isso prejudicou tratamentos. Outra preocupação é com alguns exames para rastreamento, como mamografias e preventivos de colo do útero, que segundo ela até o momento não vêm sendo feitos.

– Quando se tem uma lesão suspeita, encaminha-se, ainda que com alguma morosidade, para o tratamento, mas com diagnóstico ainda é diferente. Já era uma lacuna (antes da pandemia), que agora ficou maior – afirma.

Segundo ela, a principal orientação é manter atenção a qualquer anormalidade.

– A principal dica é ficar atento ao corpo. Diante de qualquer sintoma, não só de covid-19, procure e insista. Não pode esperar em casa, tem que ganhar na insistência – orienta.

Receio da covid-19 faz pacientes evitarem consultas

Além da manutenção das consultas, exames e cirurgias que permitem identificar e começar a tratar o câncer desde cedo, com mais chances de cura, há outro fator importante para que a prevenção e o diagnóstico precoce: o comportamento.

O médico oncologista e diretor da Associação Catarinense de Medicina (ACM), Ernani Lange São Thiago, afirma que também está havendo uma fuga dos consultórios por medo de contrair o novo coronavírus nos ambientes de saúde. Segundo o profissional, isso ocorre tanto nas consultas com clínicos, que são os primeiros a receber os pacientes com alguma queixa de alguma dor que pode ser provocada por um estágio inicial da doença, quanto na procura por clínicas e especialistas depois que o exame já mostrou algum diagnóstico positivo para câncer.

– Esse receio dos pacientes vai causar um retardo no diagnóstico, um retardo no tratamento e seguramente vamos curar menos. Não se pode trocar uma probabilidade, que é a possibilidade de ter o coronavírus, por uma certeza, que é a de que se não tratar o tumor, ele vai morrer – defende.

O oncologista tranquiliza dizendo que as clínicas e consultórios adotaram protocolos para evitar qualquer tipo de aglomeração, manter distanciamento e averiguar se o paciente irá levar familiares na consulta. Todas essas medidas visam passar segurança para que as pessoas não deixem de buscar atendimento ou tratamento contra o câncer pelo receio da covid-19.

Não se pode trocar uma probabilidade, que é a possibilidade de ter o coronavírus, por uma certeza, que é a de que se não tratar o tumor, ele vai morrer

– As clínicas estão bem orientadas e estão tomando esses cuidados, com intervalo de limpeza de sala, vestimenta, horário específico para paciente eventualmente portador. As pessoas precisam sentir essa segurança e não postergar o atendimento – afirma.

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