Carla Algeri
Eu venci o melanoma!
Quero compartilhar minha história de sucesso na luta contra o câncer. Recebi muitas bênçãos e espero que meu relato inspire outros pacientes a terem confiança e não desistirem do caminho da cura.
Em 2012, percebi um pequeno nódulo escuro no canto do meu olho direito. Então, procurei um oftalmologista, que indicou uma cirurgia. A biópsia indicou um melanoma invasivo na carúncula do olho direito. Marquei nova cirurgia para aumentar as margens cirúrgicas e fui consultar com um oncologista. Por indicação do cirurgião e do oncologista, utilizei um colírio quimioterápico por três semanas, alternadas. Tive uma forte conjuntivite por causa disso, mas no final ficou tudo bem.
Por indicação de uma amiga, a Aline, residente do Centro Oncológico Ermínio de Morais, do Hospital São José, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, fiz uma consulta com o Dr. Rafael Schmerling, maior especialista em melanoma da América Latina. Ele elogiou a conduta dos médicos de Florianópolis e disse que o tumor foi retirado ainda muito pequeno, por isso as chances dele voltar eram mínimas. Aconselhou continuar com o acompanhamento a cada seis meses.
Em junho de 2014, senti um pequeno nódulo perto da orelha direita.Foi no cinema, quando apoiei o rosto em minha mão. Saí de lá chorando, mas disse para o meu noivo, Rafael, que era por causa do filme!
Em julho fui à consulta de rotina com o Dr. Rafael, que pediu um ultras-som. O exame indicou um tumor benigno. Mesmo assim o nódulo não parava de crescer.
No dia 23 de setembro o nódulo estava muito grande e dolorido. Em contato com a minha amiga residente e o marido dela, o Guilherme, primo do meu marido Rafael, fiz uma biópsia por punção e uma tomografia. O resultado da biópsia foi metástase de melanoma e a tomografia indicou inflamação nos linfonodos do pescoço. Meu mundo caiu, o diagnóstico não podia ser pior. Lembrei na hora do meu ginecologista, que me disse uma vez que “para melanoma metastático, são seis meses de vida!”.
O Rafael, meu marido, tirou fotos dos exames e enviou rapidamente para a Aline, que me ligou, e marcamos uma consulta para segunda-feira à tarde com o dr. Rafael Scmerling. A Aline já havia marcado um pet scan para mim para a manhã de terça-feira. Fiz o exame, almocei e às 13h o Dr. Rafael viu o resultado. A notícia foi melhor que o esperado, pois havia apenas um ponto de células malignas, na parótida.
O Dr. Rafael me indicou duas possibilidades de tratamento: interferon por um ano, ou a bioquimioterapia, tratamento apenas disponível no Hospital São José, em São Paulo. Seriam três ciclos, que consistiam em uma semana de internação, onde eu receberia um coquetel de cinco drogas contra o câncer, entre elas injeções diárias de Interferon. Depois de duas semanas de descanso em casa, voltaria a São Paulo para mais um ciclo. Decidi, em conjunto com a minha família, pela segunda opção.
Iniciei o tratamento em outubro, em São Paulo. Fiquei sete dias hospitalizada. Fiz o implante do cateter e durante cinco dias recebi doses de vários quimioterápicos. Os auxiliares de enfermagem mediam toda a minha urina e me pesavam duas vezes ao dia. Cheguei a “engordar” até três quilos em um único dia devido ao edema. Tive febre, calafrios e dormia muito. Quando conseguia, lia, via televisão ou ficava na internet, pelo celular. Também tive coceira e descamação da pele. Muitas vezes fiquei toda vermelha. O sintoma mais difícil, porém, foram as náuseas e a impossibilidade de me alimentar. Nos últimos dias, só ingeria líquidos.
Ao voltar para Florianópolis, tive que tomar soro, pois estava muito fraca e desidratada. Depois de duas semanas, voltei a São Paulo. O pet scan indicou uma super redução do tumor, o que significava que o tratamento estava dando certo. No mesmo dia implantei o cateter novamente e recomecei as aplicações.
Desta vez a volta para casa foi mais difícil. Tive uma forte reação no estômago, vômitos, e não consegui me recuperar tão bem para a terceira etapa. Mesmo assim, duas semanas depois voltei a São Paulo para o terceiro ciclo e o novo pet scan indicou uma redução ainda maior do tumor. Foi a notícia que me deu forças para continuar.
Voltei para Florianópolis com meus pais e o Rafael dia 22 de dezembro. Sair do aeroporto de Congonhas quase na véspera de Natal foi muito difícil. A companhia aérea me forneceu uma cadeira de rodas, o que facilitou as coisas. Ao chegarmos em Florianópolis, recebemos a notícia de que minha sobrinha, Marina, havia nascido, linda e saudável, uma emoção para todos.
Meu estômago estava muito mal. Tive que ir mais umas três vezes para o Pronto Socorro tomar soro e medicação venosa para o estômago. A festa de Natal foi na casa da minha sogra. Dia 25 de dezembro passei no hospital, tomando soro. Dia 27, meus pais voltaram para casa, para Pranchita, interior do Paraná, para conhecer a neta.
Fui melhorando aos poucos e, então, estava na hora de fazer a cirurgia! Optamos pelo cirurgião de cabeça e pescoço, Dr. Acklei Viana. Além de ser amigo do Guilherme, o Acklei fez estágio no Hospital São José. Fiz a cirurgia para dia 21 de janeiro, no Hospital de Caridade, em Florianópolis. Apesar no atraso da cirurgia, foi tudo muito tranquilo. Meus pais chegaram a Florianópolis durante a cirurgia. Fiquei apenas dois dias internada.
A recuperação não foi tão tranquila. Comecei a fisioterapia com a Ligia, esposa do dr. Acklei, que aliviou bastante o inchaço e o mal estar causado pela cicatriz. Estava ainda com imunidade baixa e anemia.
A biópsia indicou que foram retirados 20 linfonodos no pescoço, além da parte da parótida, onde havia o tumor. Não foram encontradas células malignas, o que foi um grande alívio!
No dia 23 de março de 2015, aniversário de Florianópolis, a cidade que escolhi como minha, fui para São Paulo fazer meu último pet scan. À tarde, tive consulta com o Dr. Rafael e as notícias não podiam ser melhores. Não havia mais sinal de doença e, além disso, meus ovários estavam funcionando normalmente, não fiquei estéril!.Isso deu a certeza de que eu posso ainda ter filhos, ainda que tenha que esperar pelo menos mais um ano e meio. Agora estou em acompanhamento, com exames a cada três meses.
Foi o dia mais feliz da minha vida! Aproveitei para agradecer às enfermeiras pelo carinho. Nem todas estavam lá, mas foi bom lembrar que algumas ainda lembravam de mim. Com certeza não somente eu, mas toda a minha família, saímos dessa experiência de forma diferente, mais unidos e com o coração mais cheio de amor e com vontade de viver!
Receber um tratamento de ponta só foi possível graças ao plano de saúde do meu marido, que é funcionário da Eletrosul. Mesmo assim contei ainda com meu plano particular, da Unimed, e ajuda financeira da minha família para viagens, hotel, medicamentos, entre tantas despesas. Sinto-me uma pessoa privilegiada por ter acesso a esse benefício e com resultados tão rápidos.
Também contei com a ajuda de dois anjos, nossos amigos médicos, Aline e Guilherme. De longe ficamos sabendo de todas as pessoas que rezaram por mim, e aqueles todos que ligaram oferecendo ajuda, mesmo sendo apenas uma palavra de amizade. Com certeza, tudo isso me fortaleceu muito.
Meu desejo é que esta seja a realidade para as pessoas que sofrem com o câncer, que sempre tenham acesso ao melhor tratamento, e se possível sem a necessidade de se deslocarem de suas cidades ou estados de origem.
Para Deus nada é impossível!
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