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A importância da sexualidade no tratamento do câncer

A importância da sexualidade no tratamento do câncer

A sexualidade é um tema frequentemente negligenciado, mas importante, no tratamento do câncer.

Os profissionais de Saúde precisam aprender como abordar os sobreviventes de câncer em relação aos problemas da sexualidade e tratamentos para disfunções sexuais relacionadas ao tratamento do câncer. É importante que se inclua a resolução de problemas para sobreviventes gays e lésbicas.

Os profissionais da Saúde e até mesmo os pacientes não se à vontade para falar sobre um problema tão delicado.  É necessário aprender como essas conversas podem ser iniciadas de maneira adequada. Boas habilidades de comunicação são cruciais, e ouvir os pacientes e estar aberto ao tema é fundamental.

Muitos profissionais acham difícil fazer com que os pacientes entendam seus próprios problemas, reconhecê-los como problemas e discuti-los francamente.

Os pacientes também precisam de apoio para saber como,onde e quando pedir ajuda.

Estão disponíveis modelos como o  BETTER Model para manejar as questões da sexualidade e ajudar os profissionais de Saúde a avaliar a sexualidade no tratamento de pacientes com câncer.

Também é utilizado o Modelo PLISSIT sobre Qualidade de Vida Sexual e Funcionamento Sexual em Sobreviventes de Câncer de Mama Pós-Mastectomia,  utilizado em conjunto com quimioterapia e radioterapia para ensinar habilidades de enfrentamento e resolução de problemas a mulheres com câncer de mama e seus maridos, encorajando sua participação em programas de grupo para expressar seus sentimentos e atitudes e assim, ajudar a melhorar a qualidade de vida sexual.

Reconhecer o problema e a sua importância implicará em maior conscientização entre as comunidades médicas, assim como entre pacientes com câncer e sobreviventes.

Há muito a ser feito para lidar com essas questões de sexualidade, mas começar a conversa é certamente um passo na direção certa.

Leoni com sua filha e neta

Leoni com sua filha e neta

Por Leoni Margarida Simm, 63, socióloga e Presidente Voluntária da AMUCC.

Mais informações:

Queda de cabelo e dos pelos, retirada das mamas, perda de libido e secura vaginal são as principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres em tratamento contra o câncer de mama quando o assunto é sexo. Segundo uma pesquisa realizada na Austrália e publicada no Journal of Sexual Medicine, 70% das pacientes têm problemas na vida sexual nesse período — número bastante alto levando em consideração a faixa etária média de 54 anos das cerca de mil mulheres ouvidas pelo médico e pesquisador da Monash University, Robin Bell. No entanto, a transa deve ser estimulada durante e depois do tratamento, porque as disfunções sexuais acontecem com mais frequência até dois anos após o diagnóstico — momento em que acontece a chamada menopausa precoce.

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Conforme os autores do estudo, os problemas com a sexualidade da mulher com câncer de mama são causados principalmente pela insegurança em relação a como o parceiro irá reagir ao corpo mastectomizado — cirurgia de retirada da mama. E o psicológico acaba afetando a qualidade da atividade na cama.

— Os seios são uma das representações de feminilidade da mulher, da sua sexualidade. É de se supor, portanto, que o câncer de mama expressa uma possível perda de contato consigo mesma, tocando profundamente sua estrutura emocional e física — confirma no artigo “Câncer de mama e sexualidade feminina: os simbolismos existentes nessa relação” a psicóloga Suzanne Maria de Carvalho Leal.

Descoberta

A ex-modelo catarinense Flávia Flores, 37, comprova os problemas que impactam na autoestima e na funcionalidade do sexo. Quando descobriu a doença no final de 2012, estava namorando, mas acabou sendo abandonada pelo companheiro.

— Ele veio para a minha cirurgia, me levou para casa depois, e aí me bloqueou em todas as redes sociais e não atendia mais as minhas ligações. Não era possível que fosse só o câncer, né? Fiquei chateada, não queria mais saber de ninguém — conta Flávia, que é de Florianópolis, mas atualmente vive em São Paulo (SP), de onde mantém o blog “Quimioterapia e Beleza”, referência online para mulheres em tratamento de câncer de mama.

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Mesmo que já tenha sido provado que o apoio é fundamental para a mulher com câncer de mama, o abandono não é raro. Mas foi carequinha, durante as sessões de quimioterapia, que Flávia despertou sua sexualidade enquanto paciente em tratamento de câncer. Ela conheceu um homem pela Internet que a aceitou e, principalmente, foi compreensivo.

— No começo eu disse: ‘já me largaram, nem vem para perto de mim. Tu não entendeu que isso é câncer? Não é estilo, é falta de pelo.’ Mas aí fui passar o carnaval com ele. Me diverti tanto que perdi até a peruca. Hoje namoro outra pessoa e continuo contente em relação ao sexo, mas é sempre delicado explicar a falta de lubrificação para o parceiro. As mulheres devem tentar, porque faz bem para nós mesmas com ou sem câncer — garante Flávia, que buscou ajuda de seu psicólogo, já que os oncologistas não abordaram essa questão durante o tratamento.

Sexo ainda é tabu

Enquanto o termo “oncosexology” (oncosexologia, em tradução livre) já é debatido nos Estados Unidos e trata a sexualidade dos pacientes com câncer, no Brasil a pauta é negligenciada na formação profissional. É o que acredita a pesquisadora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (SP), Simone Ferreira, que estuda a sexualidade de mulheres com câncer de mama e ginecológico na Universidade de São Paulo (USP).

— Há um despreparo. Temos um modelo biomédico que tem a cura como prioridade. Quando não deveria ser assim. Outra possível justificativa é a vergonha, porque nem todo mundo tem a sexualidade bem resolvida, e o sexo é uma construção sociológica. Também há uma questão de gênero: com uma obrigação social de a mulher servir o marido e, com isso, ter dificuldade de ressignificar o sexo. Por fim, o fato de serem em maioria mulheres atendendo mulheres, a relação pode gerar vulnerabilidade e espantar o assunto — analisa.

A paciente e presidente da Associação Brasileira de Portadores de Câncer (Amucc), Leoni Margarida Simm, comprova o pouco enfoque na sexualidade e acrescenta a importância do papel do parceiro nesse processo.

— Não conversaram comigo sobre isso, perdi o libido e não queria que ninguém me visse nua, nem meu marido. Mas ele foi fundamental e me dizia: tu és todas as mulheres, conforme eu mudava a peruca ou o lenço — lembra.

Câncer sutra: sexo para prevenir

— A Associação Americana de Luta Contra o Câncer lançou em maio deste ano o www.cancersutra.com. O endereço funciona como um guia de detecção dos câncer de mama, próstata e pele a partir da prática de diferentes posições sexuais que privilegiem o contato. O objetivo é despertar a atenção do parceiro para os sinais precoces da doença.

— O site explica com ilustrações como cada posição pode detectar os primeiros sintomas de possíveis tumores (caroços, manchas, eczemas e pintas, por exemplo). Há também o aconselhamento de procurar um médico para fazer o diagnóstico correto. Além de posições para heterossexuais, o guia também engloba opções para casais gays.

Dicas para melhorar a relação sexual

1) Ajuda psicológica
— Procure um psicólogo para acelerar o processo de adaptação em relação ao novo corpo;
— A presença do companheiro pode ser importante nessa etapa.

2) Atividades físicas
— Movimentar o corpo nesse período pode ajudar a melhorar o desempenho sexual.

3) Lubrificante
— Use lubrificantes apenas à base de água durante a quimioterapia e radioterapia;
— Depois, durante o tratamento hormonal, peça para o seu médico receitar algum medicamento que contenha outras substâncias que possam potencializar os efeitos;
— Utilize o aplicador nos dois casos, porque a lubrificação deve chegar até o canal vaginal para que você não sinta dor, e não apenas na vagina. Em pacientes de câncer de colo de útero, isso é ainda mais importante, porque pode acontecer a estenose (estreitamento do canal vaginal).

4)Imaginação
— É comum perder a libido (vontade de fazer sexo) durante o tratamento do câncer, por isso invista no poder da sua mente.

5) Acessórios
— A autoestima é outro problema enfrentado pela mulher com câncer que deseja manter-se sexualmente ativa. Por que não apostar em uma lingerie especial para se sentir mais atraente? O lenço para cobrir a carequinha pode ser outra opção.

Fonte: Hora de Santa Catarina

Publicado em: 16/10/2015

Autor: Gabriele Duarte

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