A importância da autoestima em pacientes com câncer de mama
Micropigmentação de aréola e cuidados pessoais devolvem a confiança para quem enfrenta ou passou pela doença
Há 22 anos, a dona de casa Rita Maria Campos de Macedo recebia um diagnóstico que ninguém quer ouvir: câncer de mama. “O mundo vai para o chão e a gente pensa que vai morrer”, afirma. Felizmente, não foi assim que essa história terminou.
A descoberta de Rita aconteceu em um autoexame, aos 42 anos. E veio dois meses após realizar o preventivo, que fazia anualmente. “Senti um nódulo e fiquei apavorada, fui atrás de médico e fiz biópsia mas não deu positivo para câncer. Repeti, e confirmou o diagnóstico, em setembro de 1997”, conta.
“Passado o choque, concluí que não podia desesperar, pois tinha meus filhos (de 5, 15 e 16 anos de idade) para criar. Então, encarei os tratamentos com o pensamento de que iria me curar”. Após retirar um quadrante do seio direito e passar por quimio e radioterapia, ela se curou. Porém, devido a uma sensibilidade à radiação, ela acabou perdendo toda a mama, dois anos depois.
Não acabou aí. Cinco anos mais tarde, teve câncer de útero. “Graças à Rede Feminina de Combate ao Câncer continuei fazendo os preventivos e descobri o tumor no útero. Fiz histerectomia total, mais 28 sessões de radioterapia e uma braquiterapia. E estou aqui”, conta.
Autoestima elevada
Dona de uma autoestima inabalável, Rita não fez reconstrução mamária. “Me olho no espelho sem problemas”, diz. E conta que nunca descuidou da aparência. “Estou sempre linda, de batom, brincos. Só porque está com câncer não precisa deixar de se cuidar. A autoestima é importante, sou a mulher-sorriso”, brinca.
A opinião é a mesma de, Leoni Margarida Simm – presidente da Amucc (Amor e União Contra o Câncer). Seu primeiro diagnóstico foi em 2001, aos 44 anos de idade, quando descobriu um tumor mamário avançado no autoexame. Mas ao contrário de Rita, ela optou pela reconstrução após a retirada da mama direita, preservando a pele e aréola.
Em 2003, o câncer se expandiu para os pulmões. “Fui submetida a uma toracotomia [incisão no tórax] e voltei à quimioterapia. Em 2004, estava livre da doença. Porém, em 2005 ela retornou, assim como em 2007-2008; 2010-2011; 2015; 2017 e agora em 2019”, conta a presidente da associação que luta pelos direitos dos portadores de câncer.
Apesar da adversidade, ela encara a vida com bom humor e se cuida da melhor maneira possível. “A primeira vez que perdi os cabelos fiquei bem triste pois minha aparência me chocou: além da perda dos cabelos, estava anêmica e tinha passado pela cirurgia de mastectomia. Era um quadro sem moldura”, conta Leoni.
Inegavelmente, a estética contribui para manter o ânimo. Embora raramente vá ao salão de beleza, ela cuida das unhas, usa creme de limpeza e hidratação, perfume e maquiagem. E dá dicas simples de como se cuidar: “passar um batom, um lápis no olho e na sobrancelha, um pouco de blush; tirar a camisola e ficar arrumadinha em casa. Você vai ver que até a família se anima”, afirma.
Tatuagem para devolver a autoestima
Mesmo com a reconstrução mamária, muitas pacientes não se sentem confortáveis com a ausência dos mamilos. Por isso, a micropigmentação de aréolas é uma opção que tem ajudado as mulheres a recuperarem seu bem-estar.
Uma das profissionais que realiza o procedimento é a técnica em enfermagem e tatuadora Janaina Piantino. Há sete anos, ela se dedica à reconstrução estética da aréola e do mamilo em mulheres mastectomizadas, em Florianópolis.
Com mais de 60 pacientes atendidas, Janaina lamenta não ter conseguido alcançar um público maior. Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), eram previstos 2.190 novos casos de neoplasia mamária somente em Santa Catarina, em 2018.
“Muitos médicos focam mais na saúde em si, mas a estética pós-tratamento também é muito importante. A ‘reconstrução’ do mamilo é a cereja do bolo e representa o fim de um longo tratamento”, diz Janaina. “A reação é imediata: quando elas vêem o mamilo no espelho, contam que se sentem mulheres de novo”, afirma a tatuadora.
Já para aquelas que não fazem a reconstrução mamária, é possível tatuar desenhos que cobrem as cicatrizes. É uma forma de ‘apagar’ os momentos de dor e marcar a vitória sobre a doença.
Quem pode fazer
Para fazer o procedimento, é preciso ter finalizado o tratamento e ter sido liberada pelo médico. Além disso, é importante respeitar um intervalo de dois a quatro meses de colocação da prótese mamária. “Faço um questionário para avaliar o estado geral de saúde da paciente e a integridade da pele e, em alguns casos, converso com o médico”, explica Janaina.
Os cuidados pós-procedimento incluem não tomar banho de mar, ficar sem lavar a região por alguns dias e usar pomada para ajudar na cicatrização, que é mais lenta do que em uma tatuagem normal. “A pele que foi irradiada ou que passou por quimio fica mais fina e fragilizada, demora mais para se recuperar. Também precisa de um tempo para atingir a tonalidade certa da pigmentação”, afirma a técnica.
A micropigmentação de aréola custa entre 700 e mil reais, mas Janaina também atende pacientes carentes encaminhadas pela assistência social do Cepon (Centro de Pesquisas Oncológicas), de forma voluntária.
Humanizando a doença
Com imagens e textos, a exposição fotográfica “De Peito Aberto – a autoestima da mulher com câncer de mama, uma abordagem humanista” mostra a doença sob uma perspectiva mais humana. A iniciativa da jornalista Vera Golik e do fotógrafo Hugo Lenzi retrata mais de 50 mulheres e homens com câncer de mama.
Para além da estética, o objetivo é estimular uma nova conduta no enfrentamento da doença, trazendo informações relevantes e debates sobre os fatores que afetam a autoestima, como a reconstrução mamária, modificações na aparência, ameaça à fertilidade e redução da libido.
Também tem o objetivo de desmistificar o autoexame. “Ele põe sobre as costas da mulher a responsabilidade de descobrir o tumor, quando ela deve ser feita através do exame de imagem”, diz Hugo. Esse também é o pensamento da presidente da Amucc. “O autoexame não é eficaz em termos de detecção precoce, pois na fase inicial o tumor é indetectável ao toque. Por isso, defendemos a mamografia a partir dos 40 anos”, diz Leoni.
Ainda assim, há um gargalo no seguimento do diagnóstico. “A mulher detecta uma lesão na mama e não consegue confirmar se é câncer. As filas para realizar ultrassonografia mamária e biópsia são enormes, chegando a oito meses de espera em alguns municípios”, revela Leoni. A alegação do poder público para a demora seria falta de recursos para pagar os exames realizados nas clínicas contratadas.
Compartilhando experiências
A ideia do projeto “De Peito Aberto” surgiu depois que Vera e Hugo enfrentaram casos de câncer na família. No caso dela, o irmão, a mãe e a irmã descobriram a doença ao mesmo tempo. “O momento mais difícil foi quando tive de contar para minha mãe de 80 anos que o filho dela de 50 tinha morrido. Mas a partir daí resolvemos transformar a experiência em algo positivo”, conta a jornalista.
Foi então que o casal criou o projeto que resgata, por meio da fotografia, a emoção das pessoas durante as fases de diagnóstico, tratamento, apoio familiar e superação. “Descobrimos que a maioria das pacientes é abandonada pelos maridos após receberem o diagnóstico. E as fotos funcionaram como uma catarse, um momento de desabafo”, afirma Vera.
A exposição mostra ainda que a doença afeta 1,5% do público masculino. “Levei cinco anos para fotografar o primeiro homem com câncer de mama. Eles têm muita vergonha por acharem que é doença de mulher e muitos preferem morrer do que se tratar”, conta Hugo Lenzi.
O início da mostra coincide com a abertura do Outubro Rosa, que acontece às 19 h desta terça-feira (1º), no Beiramar Shopping. Haverá apresentação do Coral Vozes de Santa Catarina e venda de camisetas da campanha de combate ao câncer de mama.
A exposição fotográfica começou em 2006 e pode ser visitada, em Florianópolis, de 1º a 13 deste mês, no piso L2 do Beiramar Shopping. No dia 10, os autores realizam uma palestra interativa no piso L4, a partir das 19 h.
Fonte: ndmais.com.br
Notícia publicada em: 01/10/2019
Autor: Andréa da Luz
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